May 14, 2022
Caderno de Recortes #47 – Jair Bolsonaro/Paul Dmoch
E aí pessoal? Como estão?Por enquanto eu sigo ilustrando as nossas newsletters com alguns estudos em aquarela. Essas pinturas tem alguma relação com o tema? Não. No geral são fotos que eu encontrei, gostei por algum motivo (normalmente a luz) e que eu tento fazer um estudo para aprender alguma coisa sobre desenho e pintura.Espero que não se importem de compartilhar essas imagens aleatórias com vocês.
Ideias roubadas
Vera Iaconelli 02/05/22
Jair Bolsonaro
Falta um pouco menos de 170 dias para o segundo turno da eleição e um pouco mais de 230 dias para a posse de um novo presidente ou a recondução de Jair Bolsonaro.É pouco tempo, mas é quase insuportável.Eu confesso que acreditava que Bolsonaro poderia não ser tão ruim assim. Não porque ele teria qualquer qualidade, mas porque as famosas “Instituições” e o corpo técnico fixo do governo bastariam para conter algo muito fora do normal.A verdade lamentável é que essa ilusão “menos pior” só aconteceria se Bolsonaro tivesse morrido na facada e fosse eleito o corpo empalhado dele.Bolsonaro por ação, omissão e “aura” nunca sairá do hall de piores presidentes da história do Brasil.As ações e omissões acho que já estão mais do que documentadas e evidenciadas, mas eu quero me atentar ao clima de destruição psicossocial que se formou.Na semana passada falei sobre a “Crise de ¼ de vida” e meu querido amigo Ricardo Malta lembrou dessa música dos anos 70.
https://youtu.be/ToXGVcrgNZA
Talvez seja fácil colher evidências de que essa crise de transição entre a juventude e a vida adulta esteja presente desde muito antes de alguém pensar sobre como seria a geração dos “millenials”, mas no passado recente não era dada a devida atenção para os sofrimentos psicológicos, muitas vezes por ignorância científica mesmo.Hoje vivemos em uma era muito desperta para esses problemas. Não dá para ser simplista e dizer apenas que somos mais sensíveis, “de pele mais fina”. É mais fácil falar sobre os problemas quando eles tem nomes, é mais fácil identificá-los quando alguém faz uma pesquisa ampla e consegue definir padrões do que seria, por exemplo, um “burnout” e como ele se diferencia de outras situações pontuais ou crônicas.E é justamente por causa dessa capacidade social de reconhecer o sofrimento psíquico e de descrevê-lo tanto de forma científica quanto poética (em filmes, livros, músicas, HQs, etc) que Jair Bolsonaro se tornou tão mais destrutivo.Quantos artigos foram escritos nas últimas semanas dizendo que Bolsonaro dará um golpe? Quantos especialistas já detalharam todos os passos, caminhos e repercussões possíveis para esse desdobramento crítico?O medo do golpe se tornou conversa na fila da padaria em alguns lugares. E essa é só uma das palavras que saíram da caixa, sacudiram a poeira e estão aí tomando sol.O nazismo e o fascismo, por exemplo, por mais que a indústria cultural tenha se esforçado por caricaturizar essas doutrinas como o auge da vilania, voltamos a usar esses termos no varejo e algumas pessoas começaram a olhar para isso e pensar: “olha, não é uma ideia tão ruim assim”.O “efeito Bolsonaro” corroeu a oposição ao fazê-la se autoinfantilizar e se autorridicularizar. Não se pronuncia o nome Jair Bolsonaro, como se ele fosse um vilão de Harry Potter. Ele é sempre tratado por apelidos bobos, o que no fim até suaviza a imagem dele e mantém uma ideia de temor diante do nome real dessa família. Passa-se horas falando sobre mamadeira de piroca, vacina com chip e terra plana. Desgasta-se criando memes e frases de efeito “porque é assim que funciona a guerra hoje”.Em outro front, bem mais importante, as discussões sérias sobre o futuro que queremos como sociedade são deixadas de lado. Se é feito uma crítica ao Lula por não estar abordando essa ou aquela causa, uma horda corre lá para desmerecer quem fez a crítica, valem-se a alegação de que ‘agora não é hora para isso", “agora é hora de tirar Bolsonaro”.Na verdade, essa é hora que mais temos que falar de aborto,