Nov 18, 2021
#137 – Latim? Morreu, mas passa bem
Você já se perguntou de onde vêm aquelas palavras utilizadas em tribunais que muitas vezes quase não conseguimos pronunciar? E quanto a um nome científico de alguma espécie de animal nova? A utilização do latim permeia o nosso cotidiano e fazemos o uso dessa língua constantemente. Mas o que muitas vezes passa despercebido é que a atribuição de nomes científicos tem um motivo fundamentado e o uso dessa língua antiga, que é a mãe do nosso idioma, também é corroborado no meio jurídico nacional.
Embora seja senso comum dizer que o latim é uma língua morta, neste episódio convidamos a Aline Tomás, Juíza de Direito do Tribunal de Justiça de Goiás e que atua hoje na Vara de Família de Anápolis para falar sobre a importância da utilização do latim em procedimentos jurídicos e o Rafael Rigolon, biólogo e professor da Universidade Federal de Viçosa, a UFV, para falar sobre o latim na ciência, e mostrar que essa língua, na verdade, está indo muito bem, obrigada. Quem vai navegar com a gente na evolução desse episódio nada macarrônico é a Isabella Tardin Cardoso, Dra. em letras clássicas pela USP e professora de língua e literatura latina na Universidade Estadual de Campinas e o Luciano Pfeifer, professor de português jurídico na Universidade Presbiteriana Mackenzie.
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Roteiro
ALINE TOMÁS: Então a pessoa recebe a sentença e diz assim: Ganhei ou perdi? Preciso ligar para o meu advogado.
MAYRA TRINCA: Alô!
JOÃO BORTOLAZZO: Oh, Dra. Tudo bem? Queria saber se meu processo andou.
MAYRA: Saiu decisão. Mas, o juiz não concedeu a liminar porque não conseguimos comprovar o periculum in mora.
JOÃO: Não entendi nada, Dra. Tá falando grego?
MAYRA: Grego não, é Latim. .
Vinheta do Oxigênio
JOÃO: Eu sou o João Bortolazzo.
MAYRA: E eu sou a Mayra Trinca. No episódio de hoje, vamos falar sobre o Latim, a língua que deu origem ao Português. E nossas perguntas são: como e por que ela continua sendo usada?
JOÃO: O latim é uma língua muito antiga, mas muito antiga mesmo, mas que se mantém presente no nosso dia-a-dia até hoje. Muitas vezes nem percebemos, mas o latim está em termos jurídicos, científicos, acadêmicos. Usamos alguns termos sem diferenciá-los da língua portuguesa, que deriva do Latim. Nós falamos com a Isabella Tardin Cardoso, Dra. em letras clássicas pela USP e professora de língua e literatura latina na Universidade Estadual de Campinas pra saber da origem do Latim
ISABELLA CARDOSO: Os primeiros indícios de língua latina registrados, em inscrições, perto do século sétimo antes de Cristo. Aliás é uma fivela, em que está escrito “Manio me fez para Numério”. Então uma marca registrada de quem era o dono da fivela e quem tinha feito. Começa no século sétimo antes de Cristo, é a chamada Fivela de Prenestria, a Fíbula Prenestina.
MAYRA: Antes mesmo do século 7 antes de Cristo, o latim já tinha começado a se desenvolver, mas era uma língua sem muitos registros escritos, já que era muito mais comum o uso oral da linguagem na época do que a escrita. Essa fase da língua ficou conhecida como Latim arcaico ou Protolatim.
JOÃO: Conforme as pessoas começaram a escrever e registrar a língua, ficou muito mais fácil manter regras e daí se originou o que se chama de Latim clássico, que era mantido principalmente pelos escritores eruditos antigos, legisladores e Estado como um todo.
MAYRA: Assim como no Português, a linguagem falada é diferente da linguagem escrita, e por isso, podemos observar a formação de dialetos. Com o Latim não foi diferente. E conforme o Império Romano se expandiu pela Europa toda, o Latim falado pelo exército, que era um Latim chamado Vulgar, foi ganhando adeptos em outros povos. E isso ajudou a manter a língua viva, né, Isabella?
ISABELLA: O que ajudou a manter a língua foram duas coisas, uma foi a política linguística que os romanos tinham a famosa pax romana, fala assim, tudo bem, olha eu conquistei você, você quer ser meu amigo?